ESCOLA SECUNDÁRIA COM 3º CICLO DE AMORA

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Experiência na pesca do bacalhau








Nesta época natalícia, o Bacalhau é um elemento incontornável em qualquer mesa portuguesa. Nem sempre foi assim. Como escreveu o nosso adulto em processo Paulo Sousa, que possui no seu currículo 2 anos de campanhas na pesca deste peixe, “quando este começou a surgir o mesmo era consumido pela chamada classe baixa. Com o passar dos anos passa a ser consumido por todas as classes sociais, e verifica-se a evolução da culinária, a confecção de receitas a partir do bacalhau chega às várias centenas.

Desta forma houve um aumento enorme na procura do bacalhau, ao ponto de, hoje, esta espécie se encontrar ameaçada de extinção. Segundo um relatório da World Wide Fund for Nature (WWF), uma entidade não governamental dedicada à conservação da Natureza, a captura do bacalhau sofreu uma quebra de 70% nos últimos 30 anos e se esta tendência não se inverter, o bacalhau poderá desaparecer dentro de apenas 15 anos.


Ao lermos a descrição do Paulo Sousa sobre a evolução tecnológica que a apanha do Bacalhau sofreu, fica bem claro como chegámos a este ponto:


“Importa referir as diferenças entre os anos em que o meu avô foi pescador (de 1937 a 1956) e a evolução até aos dias de hoje. No inicio do século os navios eram à vela (…) e a pesca era feita a partir dos dorís, cada pescador pescava com duas linhas tendo cada uma delas um só anzol.


Apesar dos avanços na construção naval, com o surgimento dos navios a motor, as campanhas ao bacalhau mantiveram-se nos seis meses, ou seja, cada navio só fazia uma viagem aos bancos da Terra Nova (por ano).


Igualmente foi possível capturar muito peixe mas sem afectar grandemente as reservas, pois que o peixe capturado era essencialmente adulto, tendo-se já reproduzido, mantendo deste modo um equilíbrio entre o peixe que nascia e o que era capturado.


Nos anos sessenta foram abandonados os dóris e introduzidas as redes. Estas eram lançadas ao mar de várias formas, tanto a partir de pequenas embarcações a motor que existiam a bordo dos navios, como a partir dos próprios navios por um dos bordos e eram designadas por redes de emalhar. As lançadas a partir da popa do navio eram arrastadas ao longo de vários milhas e capturavam toda a espécie de peixe, apesar das restrições.


Foi também por esta altura que começaram a surgir as sondas (sonares), equipamento que veio permitir varrer o fundo dos oceanos e desse modo determinar a localização dos cardumes, dando desse modo aos Capitães dos navios uma percepção mais exacta sobre o local onde lançar as redes.


Apareceram ainda navios Espanhóis que pescavam em parelha, ou seja, cada um tinha uma das extremidades da rede. Este tipo de pesca visava o lucro fácil e rápido e fazia jus ao ditado que diz que “ tudo o que vem à rede é peixe” desse modo efectuavam uma captura ainda mais agressiva sobre todas as espécies piscícolas, não permitindo que o peixe atingisse a idade da desova, impossibilitando desse modo a regeneração dos cardumes.


Toda esta azáfama de navios de grande porte que nesta altura já faziam não uma, mas duas campanhas por ano, a que se juntaram mais tarde os navios fábrica, começaram a ter efeitos nefastos na regeneração do pescado. Apesar das autoridades Canadianas terem navios e aviões a controlar a posição dos navios e também fiscais a bordo dos mesmos, era vulgar os Capitães adoptarem alguns truques para capturar mais peixe.
(…)


Recordo-me de um arrastão que ao entardecer entrava nos bancos do bacalhau e arrastava até ao nascer do dia, regressando depois à sua área de pesca. Como era um navio recente o seu sistema de propulsão permitia-lhe deslocar-se rapidamente, mas não há bela sem senão e o truque foi descoberto, não restando outra alternativa que não fosse a fuga para águas nacionais. Os Açores estavam tão perto mas a ameaça do uso da força por parte da guarda costeira levou o navio a dar meia volta, parte do pescado foi confiscado e o Capitão proibido de regressar por um período de cinco anos.”

Paulo Sousa, adulto em certificação Nível Secundário

Neste episódio da sua vida, do qual apresentámos apenas um excerto, o Paulo Sousa evidencia (documentando com imagens e cópias de documentos) ter actuado “na exploração dos recursos naturais (…) com conhecimento dos meios técnicos adequados, tradicionais ou inovadores”. Este é um dos 3 critérios de evidência de Sociedade, Tecnologia e Ciência necessários para validar a competência do domínio profissional do núcleo de Urbanismo e Mobilidade.
Inês Oliveira, Profissional de RVC
Rui Laureano, Formador de STC


E você? Vai comer bacalhau este Natal?

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