Excertos de Portefólios:
"Ao chegar a Inglaterra observei atentamente as diferenças culturais, religiosas e laborais e vou descrever de seguida algumas delas. No Reino Unido existe um elevado numero mães adolescentes. Em Portugal as mulheres, regra geral, têm filhos após conseguirem estabilidade profissional e financeira e cada vez mais têm filhos mais tarde. No Reino unido são mães jovens e começam a sua vida profissional mais tarde. Um dos factores que influência esta decisão é a atribuição de subsídios. Em Portugal o abono de família e os subsídios sociais são de valores demasiado baixos, sou mãe e sei que estes valores são “ridiculamente” baixos, ao contrário do Reino Unido, onde é dado o abono de família, que lá se chama Child Benefit, num valor que permite garantir o sustento da criança, o Tax Credit, que é atribuído consoante o agregado familiar e os rendimentos e no caso de classes mais baixas ou desempregados, poderão ainda obter subsídios de renda, Housing Benefit, ou até mesmo obterem habitação social. "
Adelaide Canelas
Certificação de nível secundário
"A diferença entre culturas e raças, nem sempre é motivo de divergências, a adaptação de diferentes indivíduos de diferentes raças por vezes é mais fácil do que se pensa e a interacção com os mesmos também.
Na minha vida há uma constante divergência entre culturas, pois parte da minha família materna é de cultura muçulmana e uma outra parte católica e entre estas culturas as diferenças são bastante notórias, daí presenciar algumas situações. Eu sou o exemplo da diferença, pois para além de o meu bisavô ser de origem síria e ter casado com uma portuguesa, as diferenças mantiveram-se nas gerações seguintes, pois a minha mãe é de origem síria e o meu pai é de origem africana.
A diferença de comemoração da cerimónia do casamento é significativa, pois a cerimónia muçulmana dura três dias em que o primeiro dia é aquele em que a noiva dá em sua casa uma festa alegre apenas com as mulheres da família com um lanche servido por ela, durante este dia e a semana anterior a noiva não sai de casa e cobre-se apenas com roupas brancas, até ao dia do casamento. Daqui a diferença entre o casamento católico, pois é no dia do casamento em que a noiva se veste de branco, existe ainda uma festa realizada antes do casamento chamada despedida de solteira, que nada tem a ver com o ritual realizado no casamento muçulmano. O dia da cerimónia que em árabe é chamado o “ Nikah”, casamento em português, é o primeiro dia que a noiva tem contacto físico com o noivo e é apenas depois da celebração e cada um deles cobertos por um véu branco, este ritual é feito para que o noivo e a noiva sejam o espelho um do outro. O casamento muçulmano é literalmente um contrato entre um homem e uma mulher e suas famílias, pois estes passam a ser uma única família. Três dias após a celebração as duas famílias reúnem em casa do noivo para uma festa alegre, esta servida pelos noivos.
Durante a cerimónia, o copo de água é muito restrito pois os muçulmanos comem apenas o cabrito e este é morto e abençoado no dia da cerimónia e assado, não há consumo de bebidas alcoólicas, pois esta é considerada uma cerimónia abençoada e pura, daí esta diferença. A nossa boda é comemorada com muita comida de todo o tipo e com grande variedade de bebidas.
Esta cerimónia é realizada na presença de muitas flores que representa a pureza e alegria, a massa de açafrão é utilizada na tez da noiva para fazer desaparecer a luminosidade da sua tez para que nenhum outro homem possa olhá-la. Já no caso da nossa cerimónia a noiva maquilha-se para que a luminosidade da sua tez se distinga.
(…)
Existe também uma questão muito curiosa na celebração da nossa cerimónia, o Natal, que não é celebrada pelos muçulmanos, por isso para eles é uma festa estranha e de alguma forma uma controvérsia à sua cultura pois o cabrito só é morto na data com algum motivo muito forte, no caso da celebração do casamento. Inicialmente parte da família celebrava o Natal enquanto aqueles que praticavam a cultura muçulmana ficavam de parte durante esta data. Com o passar dos anos foram-se integrando nesta festa e hoje em dia participam na festa; só não dão os presentes da época porque o seu simbolismo não lhes permite.
O chamado ramadão, bastante conhecido, é praticado desde sempre pela minha família, mas ninguém o pratica a não ser aqueles que estão convertidos, pois é impensável esta prática do ramadão por outro membro que não seja convertido, porque é considerado uma ofensa à cultura, e daí até preferem que ninguém pratique, apesar de todos nós respeitarmos esta quadra.
Apesar de todas estas diferenças, tentamos de alguma forma satisfazer os costumes de todos presenciando sempre as diferentes culturas, tentando sempre estarmos unidos, até porque somos uma família e temos de permanecer como tal, unidos apesar das diferenças e controvérsias. Nem sempre é fácil mas ambas as partes fazem alguns sacrifícios para que o ambiente seja harmonioso e não exista tensão."
Rita Pereira
Certificação de Nível Secundário
Depoimentos sobre o processo RVCC:
Inscrevi-me neste programa para ter a oportunidade de concluir os meus estudos e validar todos os conhecimentos adquiridos ao longo da minha vida.(…)
Nasci em Moçambique.(…)
Apesar de estarmos cá em Portugal, mantivemos algumas das nossas tradições, principalmente nas festas familiares onde incluímos sempre os nossos pratos típicos: o caril de frango, caril de amendoim, caril de caranguejo. Alguns destes pratos têm origem indiana. Também são confecionados outros pratos africanos que eram cozinhados no sul de Moçambique, onde nasceu a minha mãe, compostos sobretudo por folhas de plantas e vegetais de que são exemplos: a matapa feita com folha de mandioca e a macouve que, como o nome indica, é feita com couve e amendoim. A alimentação é muito rica em vegetais e em Moçambique as plantas têm um papel muito importante tanto na alimentação como nas medicinas alternativas e tradicionais.(…)
Em Moçambique existe muita diversidade cultural devido às diferenças étnicas entre os povos do Norte e os do Sul, bem como a mistura com indianos, especialmente goeses, e com árabes na zona norte. No aspecto cultural há a destacar que um dos melhores escritores de língua portuguesa, o moçambicano Mia Couto e na pintura, com relevo internacional, o recentemente falecido Malangatana.
A diversidade de populações proporciona uma gastronomia muito rica no que é ajudada pelas especiarias e pelo peixe e marisco das águas quentes do oceano Índico que banha a sua extensa costa. A título de exemplo junto uma receita de Caril de Frango à Moçambicana. Enquanto o prepara vá petiscando uma chamuça meio-picante ou muito picante dependendo do gosto.
Caril de Frango à Moçambicana
Ingredientes:
• 1 Kg de frango
• 2 chávenas de arroz
• 1 cebola grande
• 2 tomates
• 3 dentes de alho
• 1 dl de azeite
• 2 dl de leite de coco
• 1 polpa de coco
• 2 colheres (sobremesa) de caril
• 2 colheres (sopa) de coco ralado
• 2 colheres (sopa) margarina
• cominhos q.b.
Preparação:
Faz-se um refogado com o azeite, margarina, alhos, cebola picada e uma das colheres de caril. Depois de alourar, colocar o tomate desfeito e os cominhos. Junte um pouco de água. Deixe aquecer. Depois de aquecer este preparado coloque os pedaços de frango cortados pequenos. Junte mais água para que se faça a cozedura em lume brando sem queimar. Antes de o frango estar cozido, coloque o coco ralado e a polpa de coco (em barra ou comprado fresco, passada na picadora). Deixe apurar. Quase no final deite o leite de coco misturado com a outra colher de caril. À parte, coza o arroz. O caril é depois servido por cima do arroz cozido.(…)
Albertina Velez
Certificada com o Nível Secundário – 6 de Julho de 2011
Inicialmente, quando me propus a este “desafio”, não imaginava o quanto a minha rotina diária iria ter que mudar para poder realizar todo o trabalho que me era solicitado.(…)
Este processo foi excelente para a minha valorização pessoal e profissional. Para mim foi extremamente importante concluir este processo, porque gostaria futuramente de trabalhar na área da saúde, pois sempre foi o meu desejo, mas dadas as circunstâncias da vida não consegui acabar os estudos, com muita pena minha.
Graças às Novas Oportunidades, tive a oportunidade de voltar a sonhar, e penso que é possível tornar o meu sonho realidade. Após concluir o 12º ano quero melhorar a minha vida profissional, para melhorar a minha vida pessoal. Ambiciono ter um futuro melhor e tem que partir de mim dar o primeiro passo.
As maiores dificuldades com que me deparei foram essencialmente, voltar a escrever, demonstrar capacidade de reflexão sobre a minha própria aprendizagem e perceber os critérios de evidência de CP. No início do processo, estive um bocado perdida, pois foi difícil descodificar o Referencial. Do meu ponto de vista estão numa linguagem um pouco complicada e pouco explícita em relação ao trabalho pretendido. Mas com a ajuda de todos os formadores e da minha profissional de RVC, tudo se compôs.(…)
Mª Filomena Fernandes
Certificada com o Nível Secundário – 6 de Julho de 2011
Procurei as Novas Oportunidades na Escola Secundária de Amora, por ser a escola mais perto da minha residência e porque foi a opção que encontrei para, neste momento da minha vida, conseguir concluir o ensino secundário.
O que me levou a iniciar o processo RVCC foi o facto de, no ano lectivo 2008/2009 através do acesso para maiores de 23 anos, ter tentado a minha entrada na Universidade e não ter conseguido.
Decidi não ficar parada, pois o facto de não ter concluído o ensino secundário faz toda a diferença, quer para o meu sucesso e progressão a nível profissional, quer para me sentir realizada a nível pessoal. O facto de eu trabalhar há muitos anos em Contabilidade e ter as capacidades e o profissionalismo de uma técnica de contabilidade, sem o 12º ano concluído, não terei tantas hipóteses como aqueles que o têm. A conclusão do ensino secundário é uma mais-valia para mim, porque hoje estou empregada, mas amanhã posso já não estar e assim terei mais hipóteses no mercado de trabalho.
Agora quero olhar para o futuro com a certeza que tenho mais uma “enxada” para poder cultivar melhor o meu amanhã, na certeza de que com o 12º ano concluído terei mais oportunidades. Continuo a pensar em estudar, vou tentar o acesso ao ensino superior e finalmente conseguir aquilo que mais quero, ser Técnica Oficial de Contas.
Marina Veiros
Certificada com o Nível Secundário – 6 de Julho de 2011
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